sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Melancholia

Justine ou Claire?


Direção: Lars Von Trier
Título original: Melancholia
Duração: 136 min
Idioma: Inglês
Lançamento: Ago/2011

É um alívio que o incômodo que Lars Von Trier queira causar em Melancholia já não seja mais do mesmo tipo gráfico do de Anticristo. Também não é como a revolta e a angústia imediata de dar nó na garganta como em Dançando no escuro ou Dogville. Melancholia é um filme que te pega na saída, quando você menos percebe, depois que você já praticamente se esqueceu dele.

À primeira vista, é um filme lento, com muitos personagens unidimensionais e caricatos (na realidade, à segunda e terceira vista, continuo achando isso, mas isso não é o mais importante), porém as duas personagens principais, as irmãs interpretadas magistralmente por Kirsten Dunst e Charlotte Gainsbourg têm, individualmente e em sua relação, profundidade suficiente para carregar o resto do elenco de personagens (que talvez sejam pálidos justamente para reforçar as cores das duas) e dar ao filme uma dimensão que nos faz perdoar o quão maçante e monótono ele é.

Justine (Dunst) é a irmã depressiva, niilista, que despreza as convenções, que faz o que quer e não consegue se encaixar no modelo que é esperado dela por pais, por amigos, pelo noivo e por todas as outras pessoas a quem ela aparentemente despreza por ignorarem, em termos literais, um meteoro que vem em sua direção e a proximidade da extinção da humanidade e, em termos simbólicos, a inevitabiliade da morte e a ausência de significado para a vida. Durante toda a primeira parte do filme, acompanhamos a náusea (a la Sartre) de Justine aumentar progressivamente conforme ela se distancia cada vez mais do mundo. Claire (Gainsbourg) permanece o tempo todo, prática, forte e decidida catando os pedaços de todas as relações quebradas pela irmã. 

Quando Justine é vencida pela depressão, Claire toma a frente e começa a segunda parte da história que mostra a lenta queda do pragmatismo e da conformidade frente ao fim. Charlotte Gainsbourg torna-se maior que o próprio filme conforme sua personagem vai sendo tomada pelo desespero e refugiando-se cada vez mais nas pequenas coisas, nos pequenos afazeres e em solucionar problemas com o intuito de manter sua sanidade enquanto tudo desmorona-se à sua volta. Dessa vez é Justine quem aparece pouco e torna-se o porto seguro para a irmã com a serenidade daqueles que se vêem justiçados.

Melancholia é chato na maior parte do tempo e faz algumas escolhas questionáveis, mas a justaposição entre as duas partes do filme é bem arquitetada e ambas incluem muitas cenas de fotografia e direção de arte acachapantes. O importante, no entanto, é que Von Trier alcança novamente seu objetivo de provocar, de incomodar e de não permitir que você fique indiferente ao filme.

É pouco provável que um meteoro vá nos atingir e acabar com todos os nossos sonhos, nossas rotinas, nossos pequenos e intensos momentos de felicidade... Mas, de acordo com Justine (e Von Trier) todos estamos caminhando em direção ao fim de qualquer maneria e todo o resto é irrelevante. Justine ou Claire? A resposta do diretor parece clara, mas como para todas as questões do tipo, é mais provável que não esteja nem em uma nem em outra, e sim na relação entre elas.

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