segunda-feira, 30 de julho de 2007

A volta do parafuso


Ininteligivelmente amedrontador

Acho que li esse livro pela primeira vez quando era mais novo, mas com certeza foi uma versão mais curta e com um vocabulário bem mais simples. Tinha uma vaga memória do clima sombrio e da atmosfera aterradora da estória, mas não me lembrava nem um pouco de quão complicada era sua leitura. Assim como o impenetrável Edgar Alan Poe, Henry James é extremamente prolixo com construções de frases complexas e vocabulário enredado , uma marca bem característica da literatura da época vitoriana.

Ainda que quando com uma só palavra, James poderia ter dito o mesmo que ele diz com quinze, a rebuscada redação ajuda a transportar o leitor para uma época remota e só dessa maneira você consegue minimamente contextualizar algumas passagens que em um cenário contemporâneio parecem leves demais ou simplesmente sem sentido. Durante linhas e linhas James descreve o quão horrível é a situação da governanta e das crianças protagonistas, mas não há nada que indique que algo realmente mais aterrador tenha acontecido que não o possível relacionamento entre a antiga governanta e um criado o qual, por sua vez, não parece merecer a alcunha "fascínora", quando sua ação mais infame parece ser a de "dar-se ares de aristocrata".

Um dos aspectos mais interessantes é a narração em primeira pessoa da governanta que nos coloca mais próximo dos acontecimentos e limita nossa compreensão dos fatos para além do que a personagem vê ou pensa sobre eles. Essa ambiguidade narrativa torna o desenrolar dos eventos (ou a mais completa falta deles) em algo muito mais interessante do que deveria ser.  Apenas nas entrelinhas é que percebe-se a presença de uma segunda estória, provavelmente a que contém os "fatos reais", onde descontados os pré-conceitos e as emoções da governanta, ações e falas dos outros personagens carregam-se de significados muito diferentes.

Ainda que praticamente ininteligível por causa de sua estrutura formal e rebuscada, A volta do parafuso consegue criar a ambientação necessária para  o horror surgir, além de ser ambíguo o suficiente para deixar o leitor com dúvidas sobre o quanto desse terror tem fundamentos.

Recomendado, mas com ressalvas.

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